quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Mote : «Aimer c’est s’y méprendre»


Picasso, Minotauro




O que seria: um desafio sem vitórias nem derrotas, o ímpeto de um sorriso, um pacto sem constrangimentos? O que quer que fosse, a mão estava pousada sobre a folha de papel, ela esperava que as palavras chegassem, como por vezes acontecia. Em torrente, o sangue rebentava uma pequena veia e derramava-se na rugosidade do cartão, no ecrã cego, no campo vasto da ausência. Essa era a tinta das emoções sem nome, o fio que conduzia Ariana em sentido inverso, ao encontro do minotauro. Infiltrava-se na distância uma mancha de sons inaudíveis, cobria as areias de Creta uma rede abandonada na fuga de Teseu.
Em que ruído pode transformar-se um rumor, pergunta ela. Em que caos a plenitude. Em que vazio o encontro. Disse, com os dedos distraídos a tentarem construir o «puzzle» com peças misturadas, que provinham de muitas origens: um rumor de pés descalços, a plenitude do tempo suspenso, a vertigem dos corpos unidos contra a morte, sei que a eternidade é esse instante. Esperou ainda, com os olhos acesos na noite, a chegada da voz, um lugar pressentido junto ao mar. Até adormecer na branca luz da madrugada.

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