Ta'achchqa
Cair nos laços do amor, enamorar-se, deixar-se prender.
"Pergunto-me com espanto", nota Al-Mountanabbi (915-965) - literalmente aquele que quis ser profeta -, "como saberá morrer quem não deseja nada.". [...]
Ainda na ressaca do Natal, com o pretexto de trocar por géneros um "cheque oferta" FNAC, que lhe coube em sorte, o Francisco arrastou-me, no passado domingo, ao Colombo.
Hordas sonâmbulas deambulavam por corredores murados de vitrines que ofereciam, a preços de saldo, milhares de coisas mais ou menos inúteis. O dinheiro (ou a falta dele) não é nunca um problema: apresenta-se o mágico cartão de plástico, digitam-se quatro números (a tecnologia do chip já chegou a Portugal) e assim se aprofunda, sem angústia nem consciência, o endividamento das famílias. O crédito é a epidural de milhões de portugueses.
Pasmei com a quantidade de bébés cujo primeiro contacto com o mundo é o Centro Comercial (não, não é o Centro Paroquial). Transportados em carrinhos com espaços destinados a acomodar sacos volumosos, têm prioridade nos elevadores, não vá dar-se o caso de serem os pais gente de pouca fé e desistirem de levar os inocentes em peregrinação aos andares superiores da Catedral.
Senti-me tão deprimida após esta odisseia que, chegados finalmente ao local de destino, ofereci (cash!) a mim mesma o último CD da Vanessa da Mata e um livrinho surpreendente: Os 100 Nomes do Amor, de Malek Chebel (texto) e Lassaâd Métoui (caligrafia). Cito um excerto do texto da contracapa: "Os árabes têm 99 nomes para Alá, o Deus único, e 100 para o amor. Se uma tal riqueza semântica mostra como, na civilização árabe-islâmica, a arte de amar e de dizer atingiu um refinamento admirável, ela também nos permite chegar mais perto do sentimento amoroso e perceber as suas ínfimas variações."
Um precioso antídoto contra a "apagada e vil tristeza" de um final de tarde de domingo.
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