sábado, 2 de maio de 2009
Caixas de memórias
Em Maio de 2007, eu trabalhava na Galeria Ratton, em Lisboa. A 10 de Maio desse ano, inaugurou-se a exposição de Bartolomeu Cid dos Santos, Caixas de Memórias. Antes, tinha sido a azáfama da preparação e o prazer de descobrir aquela peças, primeiro através das fotografias que a Ana Viegas tirara no atelier do artista, em Tavira, depois a alegria de as ver e tocar ao desempacotá-las e transportá-las, à procura do espaço mais apropriado, da sequência que articulasse as narrativas que iamos adivinhando. Bartolomeu chegou por fim, imponente e frágil, sobrevivente de naufrágios e irradiando o prazer de estar vivo. Ouvi-lo, passo a passo, ao longo do itinerário da exposição, cruzar memórias pessoais, familiares e históricas, experiências vividas e sonhadas, materiais plásticos e poéticos, foi um privilégio que não estava previsto no meu contrato de trabalho. Desse encontro ficou-me a intensidade de uma cor, azul, a transbordar das caixas, que continham o mar, e da inquieta sabedoria de um homem-artista que nenhuma moldura continha.
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