quarta-feira, 8 de junho de 2011

Memento mori (título roubado a um poema de L.F.C.M.)


          ...
          Nós nunca vemos ninguém morrer,
          Porque morrer é por dentro de cada um,
          Como talvez tudo o que tenha algum sentido,
          Como talvez o amor.
          …
          Luís Filipe Castro Mendes, Lendas da Índia

     Quase seis meses depois, é altura de te dizer o que não vais ouvir: só se ouvem as palavras por dentro de cada um, como talvez tudo o que não tem sentido, como talvez a morte. Sentei-me na cadeira ao lado da tua cama, peguei-te na mão e disse-te coisas acidentais, mas que eu sabia serem definitivas. Não deste nenhum sinal de que me entendias, talvez por isso eu as dissesse como se fosses a minha filha pequena e eu a tua mãe carinhosa. Talvez tenha dito que já era noite, que tinhas a pele bonita, que havia muito trânsito lá fora. Tocar-te a face, segurar a tua mão durante horas, era o último e primordial contacto e soube que não era impossível que me sentisses ali, apesar da grande ausência que rodeava já o teu corpo e te levava, a pouco e pouco, para onde o amor não pode chegar. 

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