quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Literalmente, neste natal

Quando chegares, neste dezembro, será quase natal. Sem pinheiro, sem presépio, sem presentes. Sem festas no olhar, sem afagos nas mãos, sem tempo para ficar. Quando chegares trarás o coração ao ritmo da partida, a mala vai ficar semi-aberta no chão, indiferente às gavetas fechadas, cheias de roupas que já ninguém veste, com um cheiro misturado das estações. Vou subir as escadas dessa casa estranha como se reconhecesse cada degrau, adivinhar o perfil da serra através das persianas fechadas, a transparência da luz sobre uma nesga de mar, e vou sentir o frio agarrar-se à pele. Quando a porta de entrada deixar de estar sujeita a metáforas e for literalmente porta de saída, direi de mim para mim, no silêncio de um sorriso, que seja como for em breve será natal.

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